quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Vinte e poucos, trinta e uns

Já se vai um bom tempo desde os vinte e poucos anos. Agora já são trinta e uns.
Quando se tem vinte e poucos, a gente vai pra micareta e sobe e desce a avenida como se não houvesse o amanhã. Mesmo que chova, a gente continua lá. Mesmo que tenha o amanhã e que o amanhã seja um dia de trabalho, a gente continua lá.
Com trinta e uns, a micareta tá um pouco distante. Pode até ser que fique próxima, mas se tiver convite pra camarote, com lugar pra sentar e comida e bebida de fácil acesso. Nem precisa ser boca livre. Basta ser livre de fila.
Quando se tem vinte e poucos, a gente até fica feliz se chover durante a micareta. Toma banho de chuva como se não houvesse o amanhã, ou como se não fosse molhar o carro na volta pra casa.
Com trinta e uns, a gente começa a se perguntar: será que pego uma gripe?
Quando se tem vinte e poucos, se dormir umas cinco horas por dia, acorda novinho em folha.
Com trinta e uns, a maioria dos mortais não consegue nem raciocinar no dia seguinte. Se tiver birita envolvida, é The Walking Dead na certa.
Quando se tem vinte e poucos, ressaca é apenas uma leve indisposição no dia seguinte. Em alguns casos, curada com aquela receita: toma outra pra rebater.
Com trinta e uns, ressaca é um estado quase terminal, passageiro, mas quase terminal. E pelo menos uns dois dias para resgatar o velho fígado surrado. Levanta-te, cadáver velho!
Quando se tem vinte e poucos, a gente nem pensa quando o amigo convida pra festinha no meio da semana. Vai como se não houve o amanhã.
Com trinta e uns, começa a achar prudente ficar em casa. Amanhã tem aquela reunião às 9h.
Aaahhhh, a maturidade...pelo menos, pra isso serve.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Diálogo

    Diálogo. O substantivo é masculino, mas o jogo é de dois. 
    Falo, tu escutas.
    Tu falas, te escuto.
    Nem sempre.
    Quando a boca se perde em blá, blá, blá,
    Pouca compreensão é o que há.














domingo, 30 de março de 2014

Oração coração

            
               
                                  Amor nosso que estás no céu
                                  Felicidade seja o nosso bem
                                 Venha a nós o vosso beijo
                                 Seja feito de muitos abraços
                                 Assim na alegria como na tristeza
                                 O riso nosso de cada dia nos dai hoje
                                 Perdoai as nossas rabugices
                                 Assim como nós perdoamos aos que
                                 andam mal humorados
                                 Não nos deixeis partir nenhum coração
                                 E banhai-nos com alto astral
                                 Amém
               

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal e Reflexão

              

              Amanhã, dia 24 de dezembro, os cristãos mais uma vez comemoram o Natal. A data, que marca o nascimento de Jesus Cristo, é uma oportunidade para a reflexão, não só para os católicos, mas para todos os que desejam um mundo com menos injustiças, com mais gentileza e cheio de vida.
              De acordo com dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL-Manaus) e da Associação de Lojistas do Amazonas Shopping (Alasc), 230 mil pessoas devem inundar as ruas do centro comercial de Manaus e os corredores dos shoppings da cidade.
              A estimativa é que 130 mil procurem as lojas do Centro e 100 mil busquem os shoppings. Isso sem contar as milhares de clientes que estão  lotando os salões de beleza em busca do melhor visual para as festas.  Uma pequena mostra da importância que se tem dado ao aspecto mercadológico.
             Dar e receber presentes é muito gostoso e também demonstração de afeto. Mas bom seria que além de se desgastar na frenética corrida pelas compras, parássemos para pensar num futuro melhor, com menos violência e em como tudo o que fazemos afeta aqueles que nos cercam  e todos os que dividem este planeta conosco.
             O mundo não acabou como alguns esperavam. Ótimo pretexto para deixar de lado a destruição e pensar no que queremos construir.
             Por isso, então, entre uma festa e outra, aproveitemos para comemorar a família e refletir sobre a importância de viver em união. Entre uma taça de champanhe e outra, brindemos ao respeito pela vida.
             Entre os vários amigos ocultos, vamos celebrar o companheirismo, mas não aquele que se dissipa quando a festa acaba e sim o que nos move a estar junto quando a jornada pesa.
Entre um presente e outro, vamos contemplar o sorriso das crianças e crer que deve estar em nós o exemplo para que se tornem adultos de caráter.
            Entre os copos de cerveja ou vinho, entre os fogos de artifício, entre uma roupa nova e outra, vamos lembrar do valor que tem um ‘bom dia’, ‘boa noite’, ‘com licença’ e ‘por favor’ e acreditar que, nesse mundo moderno da correria e do virtual, ainda é possível resgatar o abraço.

Feliz Natal!

Publicado no editorial do jornal Diário do Amazonas de 23/12/12

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Facebook e a Velha da Janela



      O Facebook de hoje é a Velha da Janela de antigamente. Quem já viveu em cidade pequena do interior, em bairros menores ou é meio antigo, como eu, sabe do que eu tô falando. É claro que há fofoqueiros de todos os tipos, modelos e cores, mas a Velha da Janela é a mais emblemática das mexeriqueiras. Mexeriqueira, aliás, também é bem de antigamente. Pois bem, a Velha passava o dia na janela, sabia quem chegava e quem saía. Assim é o Facebook, ou Face, para os íntimos. A diferença é que agora a velha nem precisa se dar o trabalho de espalhar a fofoca porque a gente faz isso por ela, e em tempo real.
     Em sua posição estratégica, a Velha dava bom dia, perguntava "como vai?", "novidades?". A Velha tinha que assuntar. Hummmm, dava um trabalho aquele 'fazer nada' na janela o dia todo! E tinha que assuntar bem, abrir procedimento investigatório. Ninguém queria ver suas vergonhas na boca do povo. Mas o Face não. O Face tem vida fácil. O Face é uma grande linguaruda venenosa recebendo o noticiário do dia.
      E, nessa nova linha do tempo, a velha e o Face um dia se cruzaram e assim bateram um papo.
      - Menino, seu Face, sabe quem casou?
      - Rapá, sei né...foi aquele. Faz um mês, mas tô até agora vendo foto....fo-to por fo-to...
      - Ah, mas seu Face, tu não sabe quem se separou...
      - Esse é que eu sei mesmo....mudou o status, já era! Velha, keep calm and faça um perfil!
      E a Velha: "Como me sinto quando espalho fofoca passada :( "
      - Véi, na boa, vai uma atualização? Vem comigo adicionar.
      - Mas Face, como é que é isso? Será que vou gostar?
      - Vem, desgruda da jenela, vê se não marca! Ou, melhor, me marca!
      - Mas seu moço, daqui eu vejo tudo e sempre posso assuntar...
      - Olhe lá, Dona Velha, minha janela é maior, tem o tamanho do mundo, sem limites pra brechar.
      - Ah...Face, tá bom. Mas me ensina a navegar.
      - Quem não compartilha se estrumbica. Vem que eu quero te mostrar.
      E assim a Velha perdeu o emprego, saiu da janela e veio pra cá.
      O Face ganhou a parada. E ele que conta quase tudo. Diz quando o amigo faz churrasco e não convida. Mostra a dança das cadeiras dos namoros. Entrega o marido no pulo da cerca. Lembra o bêbado do porre. E tudo sem o menor esforço. Porque no Face, a fonte é a melhor. É o alvo da fofoca que se entrega sem pensar. É como dizem por aí, se o Face não deu, nada aconteceu.
      Mas cuidado, não vá se abestalhar. O Face é vício bom, mas vê se não exagera. Nos poupe dos detalhes sórdidos e dê um tempo pro teclado. A vida é aqui fora e um pouco de mistério é bom pra provocar.
      E agora já vou indo, que tenho mais o que fazer. Um beijo aos amigos, lembranças aos inimigos e quem quiser me facebooka!
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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Todo mundo nu

         
         Impressão minha, ou  tá todo mundo querendo ficar nu? É nu de corpo e nu de alma. E não basta ficar nu, tem que ir pra internet. Nem sei se isso é de todo ruim, a gente acaba vendo umas coisas interessantes (ou bizarras?) e fatalmente dando boas risadas. Mas a frequência com que tenho visto gente pelada tem me feito pensar sobre o caso. Será que a gente precisa, ou merece, tantos bilaus, peitinhos, falta de calcinha e revelações sobre a intimidade mais ítima dos amigos 'facers', twitteiros e afins?
          Vamos como os açougueiros, por partes. Primeiro as celebridades. Ronaldinho Gaúcho exibindo o instrumento em riste e se divertindo com ele. O cara é um dos jogadores de futebol mais populares do universo e, não satisfeito, foi pra frente do computador, botou o bicho pra fora e deu um 'olá' para o youtube. Não sei com quem ele estava se comunicando, por assim dizer, mas ou ele acredita no coelhinho da Páscoa ou realmente queria que todos soubessem do seu potencial fora dos campos.
         Aí, teve o celular da Scarlett Johansson e as fotos da Carolina Dieckmann. Safadheeenhas.... As duas gostam de se exibir para seus companheiros, ok, acho digno, mas isso as coloca na lista dos peladões. E, confesso, cheguei a pensar se as fotos escaparam por acidente ou se as duas quiseram sambar na nossa cara com salto agulha. Não tinha photoshop, não tinha maquiagem e elas estavam lá, belíssimas, quase como um soco no estômago das pobres mortais. E ainda dominaram as listas de notícias mais lidas. Essas pagaram peitinho, mas saíram bem na fita.
      Ainda no quesito celebridades, tem a mania de deixar calcinhas e sutiãs mofando em casa. As atrises/modelos/mulheres frutas têm sido pegas em ângulos nada discretos. Os vestidos estão cada vez mais curtos e transparentes. Você sai de casa e finge que tá vestida. "É tipo roupa, só que sem pano". Mas é de grife, e caro. Se bem que no mundo das celebrities às vezes mais vale uma periquita voando do que uma calcinha na mão, desde que seja em destaque, no topo do site de fofocas.
       Do lado de cá tem os anônimos, cada vez mais animadinhos, salientes, enxiridos e sem-vergonha. Sem vergonha mesmo. Dia desses um juiz nos Estados Unidos tirou fotos de suas partes pudendas e mandou a colegas de trabalho. Agora, se um juiz anda fazendo isso, imagina o que não faz o pessoal de fora do Judiciário. Tem tudo, ensaio de sunga branca, poses de fio dental ou colant à lá Sônia Abrão, dancinhas exóticas e até mulher traída colocando foto da amante pelada. Todo mundo é fotógrafo e modelo em potencial.
      Mas tem gente que nem precisa de foto pra ficar nua na internet. Bastam algumas palavras. Uma colega postou algo assim no facebook um dia desses: "Não entendo porque quando estou com meu namorado, na cama, ele vai descendo, descendo, descendo e, de repente, sobe de volta, sem chegar lá". Traduzindo: "meu namorado (o dela) corre do sexo oral, como o diabo da cruz". Hein? Pergunta pro cara. Mil comentários depois, com análises detalhadas sobre razões anatômicas, cabeludas e azedinhas para explicar a recusa do rapaz, espero que ela tenha resolvido o problema.
     E ainda tem os protestantes. Não os da religião, os que protestam mostrando peitos e bundas. O negócio ganhou update e upgrade com aquelas moças da Urcânia. Todas magras e bonitas, a maioria louraça, elas estão sempre de peito de fora. 'Dizque' protestam contra o patriarcado. Mas o difícil é alguém lembrar disso. Você lembraria se eu não tivesse te contado?
     Nunca entendi esse negócio de protestar tirando a roupa. Ainda mais no Brasil, onde a maioria já anda meio pelada. Aí, dia desses, umas alunas da Ufam protestaram em apoio à greve dos professores. Nem tão belas, nada loiras, elas também foram para as páginas dos jornais. Mas o que mais chamou atenção foi o moleque com cara de aprendiz de tarado fitando os peitos das meninas. Só ouvi comentários sobre ele, nada sobre os salários defasados. Agora, só Deus sabe o que o curumim fazia de mãos dadas com a mulherada.
    Enfim, como já dizia o Bial...Também, o que são peitinhos, bundas e bilaus, perto de outras vergonhas que muita gente costuma exibir por aí? Só não vai esquecer de dar aquela depiladinha antes...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nada é bom

        
            Hoje eu não fiz nada. Confesso, cometi um crime, sou culpada. Não fiz nada. Sou culpada, mas não sinto culpa. Não fiz nada e achei ótimo. Como é bom vadiar! Há uns meses li uma reportagem que me veio à mente nesses primeiros dias de férias. Era sobre o ócio e como as pessoas estão esquecendo que é preciso fazer nada de vez em quando. Veio bem a calhar....
            Como já dizia Cartola, o mundo é um moinho e, digo mais, é um redemoinho. Tudo é pra ontem, é a nóia da superinformação com ipads, iphones e afins, se conectando a tudo. É academia, trabalho, estudo, dívidas, pegar criança na escola, bater ponto no salão, arrumar a casa, fazer a janta, comprar no supermercado e tudo o mais...A pessoa vive atolada. Tem dia que a gente só quer colocar a cabeça pra fora e respirar. E é por isso que digo: toda criatura tem direito a fazer nada.
            Certos são os índios, ou eram, sei lá. To falando daqueles índios sobre os quais li na escola. Umas quatro horas de trabalho por dia, só pra garantir o pão nosso de cada dia. E no mais, se embalar na rede, tomar banho de rio e fazer menino. Não sei se era assim mesmo, mas se era, eles é que estavam certos.
            Maldito seja aquele que inventou a falsa necessidade do sapato novo, do carro, da roupa da moda, do status. Sim, porque a gente trabalha, trabalha, se mata em mil compromissos e responsabilidades pra ter coisas e talvez ser, não apenas o que somos, mas aquilo que esperam que sejamos. Tudo isso cansa e às vezes é preciso mandar às favas e parar pra respirar, pra pensar, pra se gostar.
            É por isso que sempre que posso me dou o direito de fazer nada. Ficar 'vagabundeando' e até inventar uma palavra, sem ter hora pra isso ou praquilo. E como é gostoso acordar e não ter nada pra fazer! Poder pensar: visito a amiga pra bater papo, leio aquele livro ou escrevo o que tenho pensado?
            'Coçar o saco' é um ato de liberdade, de libertação. E o ser humano, bicho que é, precisa 'coçar o saco' de vez em quando. Parar, respirar, repor as forças pra retomar a batalha. Fazer como aquele vira-lata que deita de barriga pra cima e arreganha as pernas pra melhor se espreguiçar. Que delícia! Confesso que até dá uma invejinha... O vira-lata não tem onde cair morto nem sabe se comerá amanhã, mas consegue deitar e se arreganhar no maior relax total.
            E podem me tachar de preguiçosa, mas bom mesmo era ter três dias de fim de semana. Dois é muito pouco. Melhor seriam três. No primeiro dia, o sujeito descansa e põe as pernas pro ar. No segundo dia, cai na gandaia, escolhe algo uhuuuu!!! pra se esbaldar. No terceiro dia, é só alegria, dar aquela preguicinha antes de retornar à lida. Acho justo, acho chic, acho digno!
           Não é que não goste do meu trabalho, porque, como diz meu amigo Artur, eu aaaamoooo meu trabalho. Mas o mundo precisa de três dias de fim de semana. As pessoas seriam mais felizes e tudo funcionaria melhor.
           E férias? Ah....férias, a gente deveria ter umas três por ano. Se juízes e outros capas preta podem, nós mortais também podemos. Trinta dias no começo do ano pra se reenergizar, duas semanas em junho ou julho pra dar uma carga rápida e pelo menos uma semana sabática naquele finzinho de ano, pra ter tempo de pensar nas tais metas. Que tal?
           Mas enquanto esse mundo não dá volta e meia, o jeito é 'coçar o saco' quando dá, seja no fim do dia, nas férias, ou enquanto os filhos dormem. Faça nada, porque é bom, alimenta o espírito, melhora o humor, traz a pessoa amada em três dias e, dizem os especialistas, fortalece o sistema imunológico. O importante é não deixar de fazer nada. Não perder de vista que esse nada pode ser aquilo tudo de que você precisa.
           Até a próxima. Vou indo nessa, que já já tem mais nada pra fazer.