sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aquele Rabugento

O Rabuja era assim, já amanhecia o dia com cara de bunda. "Bom dia!". "Bom dia pra quem? Só se for pra você". Passava pelas pessoas sem ver ninguém. Nem bom dia, nem boa noite. Quando alguém ligava, atendia com um  "oi" que em vez de saudar parecia dizer: "ai...fala logo". Se ia a uma festa, bebia e fumava pro tempo passar entorpecido. Se alguém perguntava: "Como é que tá?" Era só: "Eh....mais ou menos...". Sempre dizia: "Detesto essa gente alegrinha. Tão rindo de quê?"
Ninguém entendia o porquê de tanto azedume. Nunca foi feio o Rabuja, tinha bom emprego, uma família legal e vivia cercado de mil amigos, aparentemente. "Esse Rabuja é metido! Pensa que é melhor que todo mundo!". "Que nada, vai ver que nunca mais comeu ninguém". Era o que diziam dele. Não era conhecido por nada, apenas pelo mau-humor.
Fez tanto por merecer que um dia a rabuja entrou como um vírus no coração. Não queria mais sair a tristeza, tanto que chegava a doer. Começou a se perguntar: "Por que? Por que? Por que?". Olhava o céu azul  e só via cinza. Via pais e crianças brincando e não sentia amor. Teve medo de morrer em vida, de secar, de murchar. Se encolheu, tudo escureceu, se deixou dominar. E foi aí que viu o fundo do buraco onde tinha se metido.
Mas quando achou que já havia perdido, se surpreendeu e surpreendeu. Empurrado pela força de sobrevivência, fincou as unhas, subiu, subiu e saiu do buraco. Um dia acordou e, ao abrir as janelas, viu dois pássaros que vieram lhe saudar. Foi aí que entendeu. "Tô vivo! Vivo, nessa viagem louca mas cheia de aventura e prazer. E só eu, apenas eu, piloto minha aeronave chamada vida".
É....já dizia o poetinha...É melhor ser alegre que ser triste.
E a cara de bunda do Rabuja? Essa deu lugar ao sorriso. Não é mais hora de perder tempo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Frescura terapêutica

Pode me chamar de fútil, de perua. Sou mesmo. Perua, não fútil. Mas ir ao salão de beleza uma vez por semana é terapêutico. Já sei até que vai dizer que é besteira, que o importante é ser bonito por dentro, se sentir bem consigo mesmo blá, blá, blá... A é? Então tenta se sentir bem consigo se olhando no espelho e vendo o cocô do cavalo do bandido. Ah não, deixa esse discursinho besta e vai pro salão. Se tá se sentido bem por dentro, cheia de vida, pega essa gata que tá guardada aí e põe pra fora.
Tá bom, já sei, ainda não te convenci. Vai dizer agora que acha salão estressante. Toda aquela espera, aquele monte de mulher, alguns homens e similares também. É muito barulho. O vruuuuuummmmmm dos secadores sem parar, puxa cabelo pra cá, puxa pra lá. Um bifinho arrancado dali outro daqui. Tá, tá e tá. Mas olha aí, o problema não é o salão, é a tua falta de experiência. Depois que aprende qual o melhor dia, a melhor hora e fica amiguinha da gerente até a menina que serve o cafezinho, não tem mais erro. Ainda mais se já investe há anos nesse mercado.
Agora pega essa gata que tá guardada aí e vai pro salão. Vai chegar lá e vai ser: "Oi dona fulana! O que vai ser hoje? Vamos pra li que já te atendo. Sente-se e relaxe". É tanta simpatia e gente querendo ser prestativa que vai se sentir a Kate Middleton em dia de festa no palácio.
Não tem mulher nesse mundo que já tenha ido a um salão de beleza que possa dizer que não gosta de ser mimada, mesmo sabendo que todo esse amor é só porque tu estás pagando...E agora tem até chazinho e puf pra descansar os pés. Sem contar o papo, com manicure, cabelereiro ou depiladora. A conversa viaja da fofoca sobre as outras clientes até os conselhos para o coração. Quer mais terapêutico que isso? Se eu pago a psicóloga e vou lá uma vez por semana, não custa nada investir na moçada do salão, que é mais barato e completa a terapia semanal. Relaxamento à base de champoo e esmalte.
Relaxou? Então reclina a cabeça no lavatório. Essa é a melhor parte. A aguinha gostosa, agora na opção morna ou fria, percorre os fios de cabelo enquanto um cafuné vai tirando as impurezas. É uma delícia. A onda de conforto vai passeando da cabeça até os ombros. E por falar em relaxamento, eu relaxo até na depilação. Devo ser a única que às vezes consegue até cochilar. Mas um dia tu chegas lá.
E assim vai passando a sessão frescura terapêutica. Entre uma fofoca e outra, revistas de pseudo celebridades e cuidados com o cabelo, o tempo passa e o cocô do cavalo do bandido dá lugar à gata que estava guardada debaixo da profissional, da mãe, da esposa ou namorada. Agora é só apostar no melhor vestido e naquele par de sapatos. Vai nessa garota! O mundo é seu.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Porra, Amy!!! Rest in peace

E lá se vai mais uma alma atormentada....A Amy era assim, uma alma inquieta, em conflito consigo mesma. Já a conheci meio tarde, nos últimos capítulos da história dela, uma pena. Me identifiquei logo no primeiro acorde, no primeiro lamento de uma voz forte, mas cheia de sensibilidade. Era até bonita a Amy, antes do veneno, antes de amar demais o amor inventado e esquecer de si mesma. Tinha talento, tanto que não cabia em si. Tinha o amor sem fim dos pais, dos fãs. Mas trocou tudo pelo veneno. Alma atormentada. Será isso alma de artista?
Ah Amy...era daquelas que sentia demais. Me fez lembrar Cazuza e Kássia Eller. Tinha o poder de tocar a gente com suas letras, com a voz sem parâmetros. Era branca com voz de negra, dizem. Que nada, era Amy com voz de Amy. Só ela mesmo e suas músicas que cutucam a ferida até o osso. Entendi na hora. Pra mim tem que ser assim. Se a música não provoca nada, não vale a pena. Pra Amy era o contrário, se a vida não provocasse nada, não valia música. Levou o caso a sério demais. They trie to make go to rehab i said no no no...
Cabelão, maquiagem forte deixando os olhos já expressivos ainda mais dramáticos, vestidinhos curtos, justos e com um cinto marcando a cintura já mais fina, consumida pelo veneno. Amy era diferente. Tinha estilo próprio, inspirado nas cantoras dos anos 40, 50. Um ar romântico, mas agressivo. Fui atraída pela estranheza.
Mas porra Amy, não tinha nada melhor pra fazer num sábado em Camden Square? Escolheu o veneno e deu no que deu. Morreu sozinha. Morreu aos 27. Lamento. Amy fez justamente aquilo que queriam seus abutres. Alimentou as aves de rapina que desejavam a morte. Agora está com Jim, Janis e Jimmy, como four litle birds ouvindo Bob num cantinho do paraíso. Não no céu, no paraíso, onde descansa a alma. Assim espero.
Alguns já disseram, Amy já estava morta, só faltava ser enterrada. Pra que autópsia? Todo mundo sabe, foi o veneno. Tolos ignorantes. Amy não morreu do veneno. Morreu de tanto sentir. Sentiu demais e se rendeu à fraqueza.
RIP babe, and never back to black!!!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Paixão Junina

O mês de junho já acabou, mas o gosto e o cheirinho de festa junina ainda inebria. O clima é quente de verão amazônico e o sol tão forte, que deixa aquele ardido na pele. Mas não adianta, o bom caboclo vai salivar diante de um panelão de tucupi fumegante e não há de resistir àquela cuia de tacacá carregada no jambu e no camarão, sem esquecer de apimentar com o molho de pimenta murupi. Alguns vão dizer: tacacá tem todo dia. Mas quem é que vai negar que o tacacá da festa junina tem gostinho especial? Tacacá, vatapá, bolo de macaxeira, bolo podre, caruru, banana frita, milho cozido, churros e outras guloseimas menos típicas mas nada menos deliciosas, como aquele espetinho de morangos combertos com chocolate. Ah....as barracas de arraial são mesmo uma festa para os olhos e ainda mais para o paladar.
E o que dizer das danças folclóricas? Grupos de moças e rapazes que economizam, treinam meses, se esforçam para manter viva uma cultura de alegria do folclore brasileiro. Uma salva de palmas para esses jovens! Merecem muito mais reconhecimento. É quadrilha, ciranda, dança do café, carimbó, dança do cacetinho. Tudo bem coreografado e com fantasias caprichadas, coloridas e cheias de brilho. Não tem como não se alegrar. Afinal, a fogueeeeeiiira está queimaaando em homenagem a São João... Isso sem falar das danças árabes. Já viu arraial com dança do ventre? No Amazonas tem. Herança dos imigrantes que encanta.
Também tem as barracas de jogos e brincadeiras. Dizem por aí que em algumas não tem como a gente ganhar. Mas e daí? Compensam o sorriso e o brilho nos olhos da criança que vê pela primeira vez as cores fortes dos peixinhos na barraca da pescaria. E também são só alguns trocados que se vão, com brinde ou não, e pagam o divertimento do povo.
E é claro, aqui tem o Boi Bumbá. Garantido e Caprichoso dando novo significado à palavra rivalidade. Ê Parintins, terra encantada!!! O clima de festa da ilha na última semana de junho enche qualquer coração de felicidade. Tanto que tem gente vindo de tudo que é lugar. Quem vai uma vez e entende o espírito dos bois, não deixa mais de querer voltar. Dois pra lá, dois pra cá pulsando no coração vermelho e branco e o rufar dos tambores refletindo na estrela azul da testa do touro negro. Belas morenas de longos e negros cabelos se exibem na arena enquanto o pajé faz sua magia. O Uirapuru e o Imperador disputam no gogó o amor da galera e batucada e marujada fazem o povo tremer as arquibancadas. Independente do campeão, o que vale é a paixão.
Paixão junina é o que afaga os corações quando chega o São João. Então pula a fogueira, olha a cobra e vai levando no balancê, balancê! Viva Santo Antônio, São Pedro e São João!!!