segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nada é bom

        
            Hoje eu não fiz nada. Confesso, cometi um crime, sou culpada. Não fiz nada. Sou culpada, mas não sinto culpa. Não fiz nada e achei ótimo. Como é bom vadiar! Há uns meses li uma reportagem que me veio à mente nesses primeiros dias de férias. Era sobre o ócio e como as pessoas estão esquecendo que é preciso fazer nada de vez em quando. Veio bem a calhar....
            Como já dizia Cartola, o mundo é um moinho e, digo mais, é um redemoinho. Tudo é pra ontem, é a nóia da superinformação com ipads, iphones e afins, se conectando a tudo. É academia, trabalho, estudo, dívidas, pegar criança na escola, bater ponto no salão, arrumar a casa, fazer a janta, comprar no supermercado e tudo o mais...A pessoa vive atolada. Tem dia que a gente só quer colocar a cabeça pra fora e respirar. E é por isso que digo: toda criatura tem direito a fazer nada.
            Certos são os índios, ou eram, sei lá. To falando daqueles índios sobre os quais li na escola. Umas quatro horas de trabalho por dia, só pra garantir o pão nosso de cada dia. E no mais, se embalar na rede, tomar banho de rio e fazer menino. Não sei se era assim mesmo, mas se era, eles é que estavam certos.
            Maldito seja aquele que inventou a falsa necessidade do sapato novo, do carro, da roupa da moda, do status. Sim, porque a gente trabalha, trabalha, se mata em mil compromissos e responsabilidades pra ter coisas e talvez ser, não apenas o que somos, mas aquilo que esperam que sejamos. Tudo isso cansa e às vezes é preciso mandar às favas e parar pra respirar, pra pensar, pra se gostar.
            É por isso que sempre que posso me dou o direito de fazer nada. Ficar 'vagabundeando' e até inventar uma palavra, sem ter hora pra isso ou praquilo. E como é gostoso acordar e não ter nada pra fazer! Poder pensar: visito a amiga pra bater papo, leio aquele livro ou escrevo o que tenho pensado?
            'Coçar o saco' é um ato de liberdade, de libertação. E o ser humano, bicho que é, precisa 'coçar o saco' de vez em quando. Parar, respirar, repor as forças pra retomar a batalha. Fazer como aquele vira-lata que deita de barriga pra cima e arreganha as pernas pra melhor se espreguiçar. Que delícia! Confesso que até dá uma invejinha... O vira-lata não tem onde cair morto nem sabe se comerá amanhã, mas consegue deitar e se arreganhar no maior relax total.
            E podem me tachar de preguiçosa, mas bom mesmo era ter três dias de fim de semana. Dois é muito pouco. Melhor seriam três. No primeiro dia, o sujeito descansa e põe as pernas pro ar. No segundo dia, cai na gandaia, escolhe algo uhuuuu!!! pra se esbaldar. No terceiro dia, é só alegria, dar aquela preguicinha antes de retornar à lida. Acho justo, acho chic, acho digno!
           Não é que não goste do meu trabalho, porque, como diz meu amigo Artur, eu aaaamoooo meu trabalho. Mas o mundo precisa de três dias de fim de semana. As pessoas seriam mais felizes e tudo funcionaria melhor.
           E férias? Ah....férias, a gente deveria ter umas três por ano. Se juízes e outros capas preta podem, nós mortais também podemos. Trinta dias no começo do ano pra se reenergizar, duas semanas em junho ou julho pra dar uma carga rápida e pelo menos uma semana sabática naquele finzinho de ano, pra ter tempo de pensar nas tais metas. Que tal?
           Mas enquanto esse mundo não dá volta e meia, o jeito é 'coçar o saco' quando dá, seja no fim do dia, nas férias, ou enquanto os filhos dormem. Faça nada, porque é bom, alimenta o espírito, melhora o humor, traz a pessoa amada em três dias e, dizem os especialistas, fortalece o sistema imunológico. O importante é não deixar de fazer nada. Não perder de vista que esse nada pode ser aquilo tudo de que você precisa.
           Até a próxima. Vou indo nessa, que já já tem mais nada pra fazer.