sábado, 13 de agosto de 2011

Eu que não queria ser um cabelo...

             Essa vai para todas as alisadas...
             Eu que não queria ser um cabelo, já dizia minha amiga Aninha. Desde pequena é um tal de "todos dançam, pega estica e puxa..." Sabe como é que é né, minhas raízes afrodescendentes nunca dão descanso. Tenho orgulho delas. Mas, ô cara aí de cima, o que custava fazer uns cachos menos rebeldes?
             Tudo começou quando eu ainda tinha uns cinco aninhos. Tentando amansar ou organizar os cachos, minha mãe e tias adoravam pentear. A receita é assim... Divide os cabelos. Metade pra lá, metade pra cá. Depois, estica cada metade, mas estica beeeem, senão não dá certo. Daí, pega um pente e, mexa por mexa, usa esse pente para fazer os cachos com movimentos em espiral. Ai, que beleza. Tortura chinesa, pra quem queria mesmo era correr pelo quintal da vovó. Uma ou duas horas depois, dependendo do humor dos cabelos, tá lá. Eu ficava a cara da Maisa do SBT. Acho que o Chuck perde, no quesito coisas infantis que paracem ter trato com o cramulhão, o coisa ruim...
            Tinha também a versão maria chiquinha, ou xuxinha (versão anterior aos DVDs só para baixinhos). Claro que não bastava fazer um rabo de cavalo pra trás. Bom mesmo era dividir tudo ao meio, esticar prum lado e pro outro e prender cada metade com uma maria chiquinha, que, aliás, tinha de todo tipo, de bolinha, de bichinho, de florzinha, do jeito que imaginasse. Mas isso era na época em que as crianças se vestiam de crianças...E quando digo esticar prum lado e pro outro, é esticar mesmo. Tanto, que os olhinhos ficavam puxados. Algo assim, uma china afroparaense. E tinha ainda a versão tudo esticado prum lado só. Um clássico dos anos 80. Mas o olhinho puxado era igual.
            Depois fiquei mocinha. Daí foi pracabá. Hormônios em fúria e, em vez de espinhas, cabelo sarará. A fase teen já começou com uma judiação. Corte à la Chitãozinho e Xororó. Onze anos e um mullet na cabeça pra encarar. O tufo de cima, do tampo da cabeça, podia até abrigar umas rolinhas. A fase cantor sertanejo do começo dos anos 90 durou uns dois ou três anos. Sim, porque cabelo crespo leva tempo pra crescer. E não cresce caindo e tomando forma. Cresce pra cima, pro lado. É dureza.
           Superada a tendência mullet, veio o tempo de Marina Silva. Sem muito o que fazer, o jeito era lavar e prender pra trás. Sem gracinha, sem gracinha. Até que....eis que surge o creme pra pentear, sem enxague. Coisa do tipo Tabajara. "Seus problemas acabaram!!!". É, porque antes disso, até Kolene tava valendo. E quem tem cabelo de negão e falar que nunca usou, nem uma vezinha que seja, tá mentindo mesmo!!! Pobres cachos afroparaenses...a vida era assim uma coisa meio lambusada. Lava, meleca e deixa secar. Ajuda, mas a qualquer sinal de vento, chuva ou mão desavisada, tremei.
           E foi com o creme pra pentear que começaram os experimentos químicos. Sabe esse negócio de experimentação na adolescência? Enquanto tinha gente experimentando TÓXICO (é, tó-chi-co, mesmo), eu estava me iniciando em outras químicas. Alisa aqui, hidrata ali...até que nessa mistureba de coisas, o cabelo pediu socorro. O bicho quebrou, que ficou pela metade. O jeito foi cortar curtinho, em cima dos ombros. Mas, como disse, cabelo crespo não cresce caindo e o meu cresceu pro lado. Com uma travessa, pra livrar  a cara, parecia um cogumelo, juro. Há provas com amigos da faculdade.
         A felicidade só chegou quando conheci a bendita defrisagem. Aleluia!!! Quer dizer, felicidade pra mim, mas não pros cabelos, que continuam penando. São pelo menos quatro horas de bunda colada na cadeira do salão. Depois da meleca pra alisar, que tem cheiro estranho e as vezes esquenta um pouco, tem mais escova, puxa, puxa e chapinha. Qualquer descuido vale uma orelha queimada. E, se queima orelha, o que será que não sofrem os fios? Depois tem mais uma horinha de hidratação, nutrição, restauração, reconstrução e qualquer outro ção que sirva pro cabelo não desintegrar. E o pior é que feito uma vez, você vira escrava. Só escapa raspando a cabeça pra deixar tudo ao natural. Ainda bem que não pinto.
        Vale tudo pra ficar lisa. Só não vale ficar careca. Cabelo sofre.
         

            


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